Bom dia meus irmãos e amigos
Para finalizar o artigo sobre o Oluô Agenor, transcrevo a página 25 a 27 do Livro Caminho de Odu, texto do próprio autor:
" O destino das pessoas e tudo o que existe podem ser desvendados por meio da consulta a Ofá, o oráculo, que se manifesta pelo jogo. Ifá tem seu culto específico e o mais alto cargo do culto de Ifá é o de oluô, título concedido a alguns babalaôs. Ifá é o orixá da adivinhação e para tudo ele deve ser consultado. Existem dois tipos de jogo: o do opelê-ifá e o jogo de búzios.
No jogo de búzios, mais comum, quem fala é Exu. São dezesseis búzios que podem ser jogados também pelos Babalorixás e Ialorixás. A consulta a Ifá é uma atividade exclusivamente masculina, mas as mulheres passaram a poder pegar nos búzios porque Oxum dez um trato com Exu, conseguindo dele permissão para jogar . (sobre este trato (lenda) você encontra no livro Igbadu - A cabaça da Existência de Adilson de Oxalá, que relacionei anteriormente)
Tanto o jogo de búzios como o do ipelê-Ifá baseiam-se num sistema matemático, em que se estabelecem 256 combinações resultantes da multiplicação dos 16 Odus usados no jogo de búzios por 16. Nada se faz sem que antes se consulte o oráculo. Quanto mais séria a questão a ser resolvida, maior a responsabilidade da pessoa que faz o jogo.
As obrigações do Odu, ou ano ritual, são muito importantes para uma casa. É dali que cada pessoa e a própria casa retiram a força necessária para continuar existindo. As oferendas representam uma troca constante de axé. Muitos detalhes precisam ser pensados para que os preceitos sejam cumpridos à risca. Por isso, antes do início do Odu, é indispensável que se faça um jogo para saber exatamente como devem ser realizadas as obrigações.
No Brasil, o ano ritual varia muito de uma casa para outra, mas em todas elas as obrigações começam com as "Águas de Oxalá". Como nem sempre essa obrigação é feita no início do ano, é necessário que se faça anualmente o jogo para saber qual o Odu que irá reger o ano. A partir do conhecimento do Odu, o oluô prescreve os ebós necessários às pessoas para que elas atravessem com sucesso o ano novo que se inicia. A partir do conhecimento dos Orixás que regem o ano, outros jogos são feitos para estabelecer as obrigações que a casa deve cumprir durante aquele ano: fica-se, então, sabendo como deverão ser homenageados os orixás, o que lhes será oferecido, quando, etc.
Além dos jogos feitos para a casa como um todo, são feitos também jogos individuais que indicam feituras, boris e toda a sorte de obrigações individuais que devem ser feitas para os filhos da casa. Uma vez estabelecido o calendário do ano, têm início as obrigações. As obrigações do Dum são compostas por momentos bem definidos.
A primeira parte de todas as obrigações se constitui de ritos preliminares, em que as pessoas e a casa são preparadas para a realização daquela obrigação. Antes do início de qualquer obrigação, todos os membros do egbé ´resentes tomam banhos com ervas adequadas à obrigação que irá se iniciar. O banho prepara o corpo. Sem tomar banho não se pode participar de nada. Esse é um dos muitos exemplos da importância de Ossaim, o dono das folhas. SEM FOLHA NADA SE FAZ.
A partir de então, tem início a obrigação propriamente dita, que se compõe de cinco partes: a matança, o padê, o ianlê, a festa e a entrega do carrego, tudo de acordo com o jogo feito para o Odu, assim como pelo jogo feito antes da realização de cada obrigação e mesmo para cata etapa de uma mesma obrigação."
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No final deste livro, página 184, podemos ler alguns Poemas do Oluô. O que eu mais gosto e já o conhecia é o seguinte:
O PÃO
Agenor Miranda
Era um pequeno pão branco, deixado
por descuido, talvez, numa soleira;
ou, talvez, algum gesto calculado
da mão que espalha o bem dessa maneira.
Passou um pobre velho. Ia arrimado
a um bordão. E tão grande era a canseira
que, exausto, foi cair junto à soleira,
onde jazia o pão abandonado...
Vendo-o, o pobre calor tomou-o;
E rápido em momentos devorou-o,
vencendo a fome com satisfação.
E o pão deixado ali, no esquecimento,
transformou-se na luz de um pensamento
e no perfume de uma gratidão.
(Novembro de 1997)
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Axé
Kafungi
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