segunda-feira, 20 de junho de 2011

HOMENAGEM AO OLUÔ

Boa noite irmãos e amigos

Professor Agenor Miranda Roca
Oluô


Tive o prazer de conhecer pessoalmente o Professor Agenor Miranda em 1979, pouco antes de minha obrigação de 14 anos. Fiquei quietinha, sentada no chão ao lado de Pai Geraldo e ouvindo a conversa dos dois. O Oluô entregou a Pai Geraldo vários papéis com suas anotações sobre o Oráculo de Ifá. Obviamente, eram cópias, muitas que eles distribuiu a todos que os procuravam. Nunca esquecerei seu rosto sereno, sua simpatia e do prazer que o mesmo sentia em falar sobre a Nação. Um homem simples e carismático.


Nos deixou no dia 17 de julho do ano de 2004,  com 96 anos de idade e uma vida cheia de alegria, sabedoria, ensinamentos e praticamente dedicada às divindades do panteão yoruba.  (Kafungi)

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Transcrição do Livro Caminhos de Odu de Agenor Miranda Rocha - Organização e Apresentação de Reginaldo Prandi. Texto abaixo de Reginaldo Pradi:

... O Professo Agenor, como é conhecido pelo povo-de-santo, nasceu em Luanda, Angola, filho de pais portugueses, em 8 de setembro de 1907. Quatro anos depois, sua família mudou-se para Salvador, Bahia, onde, no dia 12 de setembro de de 1912, aos cinco anos de idade, por motivos de saúde, em uma casa da Ladeira da Praça, foi iniciado no candomblé por Mãe Aninha, Ana Eugênia dos Santos, Oba Bií ... . Completou sua obrigação na lei-do-santo iniciando-se para Euá, seu segundo orixá, com Cipriano Abedê, no Rio de Janeiro, levado por sua mãe-de-santo...
Quando jovem, professor Agenor mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar Medicina, vindo a se formar em Letras, tendo se tornado professor do Colégio Pedro II, onde lecionou por quarenta e seis anos. Por sua mãe Aninha era chamado Odaguiã; pelo povo-de-santo foi chamado sempre de professor Agenor. Os mais íntimos chamavam-no de Santinho.
Filho de Olaxá, sempre ligado ao Axé Opô Afonjá, Agenor tem sido o responsável pela consulta oracular que regula a sucessão naquele terreiro, assim como na Casa Branca do Engenho, além de ocupar também o cargo importante no terreiro do Gantois. (...)
Em quase um século de vida, Professor Agenor conviveu com as mais importantes personalidades do candomblé (e com todos que os procuravam, por mais humildes que fossem) e com o Babalaô Martiniano Elisei do Bonfim (1859-1943), aprendeu os seggredos das folhas, tornando-se OLOSSAIM. Mas foi com sua mãe-de-santo que aprendeu o jogo de búzios, cujo corpo oracular, constituído dos Odus, cada um com seus caminhos, ebós, mitos e significados, transcreveu no caderno de 1928. (Caderno este que deu origem ao Livro citado acima,  organizado por Reginaldo Prandi e revisado pelo próprio Agenor Miranda).

(...) Muitas cópias desse caderno foram feitas e presenteadas a sacerdotes e sacerdotisas que recorreram ao Professor Agenor para o jogo de búzios, tanto para jogar com ele, quanto para aprender. Cópias que foram passadas para outros, repassadas e adulteradas (acredito por falta de conhecimento de expressões em yorubá, dando outro sentido ao texto original).

O Texto Caminhos de Odu publicado em 1999, reproduz fielmente o manuscrito original, com sua linguagem simples e saborosa. Disse-me o oluô que ele escrevia "da maneira como o antigo nagô falava". Cada Odu compõe-se de vários caminhos. Cada caminho divide-se em três partes: 1) ebó,
 2) mito, 3) interpretação do oráculo. É interessante que a lista dos ingredientes para a oferenda sempre é concluída com um "etc.". Disse o Professor que cabe ao olhador complementar a receita, juntando alguma pequena coisa adicional que possa ser necessária em função da ocasião, da gravidade do problema, das condições da pessoa para quem se joga e assim por diante. Disee ele: " A mãe ou pai-de-santo está com os búzios na mão, então joga e pergunta se é o caso de pôr mais alguma coisa. O olhador tem de ter sabedoria para desvendar o Odu completamente, porque nenhuma receita geral é assim completa. Cada caso é um caso.Em dois dos caminhos, a receita do ebó diz simplesmente : Tudo o que for necessário e indispensável para tal fim,"  num perfeito desafio ao olhador.

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Obs.1> Quando o livro Caminhos de Odu foi publicado, Professor Agenor estava entre nós.  No ano de 2004 ano não comemorei meu aniversário, por diversos motivos e entre eles a morte do OLUÔ querido, pois faço aniversário em 18 de Julho (ele faleceu no dia 17). Os grifos em vermelho são meus.

Obs.2.> Acredito que além dos estudos, da prática, do conhecimento das lendas e etc., o olhador deve ter o dom natural para a leitura dos búzios e entendimento dos odus. Não basta decorar caídas e lendas, é preciso mais...algo sutil, intuitivo e um coração de amor e caridade.


Axé
Kafungi

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